Célula-tronco ameniza a atrofia muscular


20.12.2012

Célula-tronco ameniza a atrofia muscular

Pesquisadores na Itália aumentaram a expectativa de vida em ratos que tinham a doença. Em humanos, 95% dos recém-nascidos com o distúrbio incurável morrem antes de completar um ano e meio de vida

De cada 10 mil crianças, uma nasce com um defeito genético que é recebido como uma sentença de morte precoce. Esses pequenos não têm uma versão funcional do gene SMN1 e acabam dependendo de uma variação pouco eficiente do código, a SMN2. Esse gene paralelo, no entanto, produz proteínas que, em vez de ajudar, levam à degeneração dos neurônios motores da coluna espinhal. Trata-se da atrofia muscular espinhal, doença que atinge principalmente crianças pequenas e recém-nascidos. Essas jovens vítimas sofrem de fraqueza muscular, paralisia e falhas graves na respiração e na alimentação, um quadro sem cura que raramente permite a chegada à adolescência.

Mas um grande avanço científico pode finalmente representar uma esperança para as pessoas atingidas pelo distúrbio recessivo. Cientistas italianos foram ao cerne da questão e recorreram à genética para corrigir o gene defeituoso. Os pesquisadores da Universidade de Milão e de outras duas organizações conseguiram aumentar a expectativa de vida de ratos com a doença usando células-tronco retiradas de pessoas doentes.

Com o tratamento genético, as cobaias aumentaram a expectativa de vida em 50% e se mostraram mais saudáveis e fortes que outros animais com a mesma doença. Esses resultados são inéditos. “Não há terapias para a atrofia muscular espinhal que estendam a expectativa de vida, apenas terapias para manter a qualidade de vida do paciente”, explica o norte-americano Robert H. Baloh, diretor da Divisão Neuromuscular do Centro Médico Cedars-Sinai, que não participou da pesquisa.

Adaptações celulares

O estudo, publicado ontem na revista especializada Science Translational Medicine, explica como os cientistas retiraram fragmentos das peles de pessoas diagnosticadas com a atrofia muscular espinhal e os transformaram em células-tronco pluripotentes, as que podem se transformar em qualquer tipo de tecido. No caso em questão, elas foram usadas para a produção de neurônios da medula, a área afetada pela doença.

Como essas células vinham de pessoas com o defeito genético, os pesquisadores tiveram de corrigir o problema antes de transplantá-las nas cobaias. “Desenvolvemos moléculas sintéticas para a SMN2 que induziram uma modificação genética permanente de apenas um nucleotídeo na região 7, assim modificando a sequência do SMN2 em uma sequência mais parecida com a SMN1”, explica o texto publicado na revista científica. Os neurônios modificados foram implantados em um grupo de ratos recém-nascidos com a atrofia. Nas cobaias, as células se multiplicaram e passaram a produzir a proteína essencial para o movimento muscular.

Embora os ratos não estivessem tecnicamente curados, os pesquisadores notaram uma melhora significativa na qualidade de vida dos bichos. Enquanto as cobaias que não foram tratadas viveram em média 14 dias, as que receberam a modificação genética sobreviveram por 21 dias. Em testes de força, os animais também mostraram maior destreza muscular e ganharam mais peso.

Antes dos sintomas

A terapia, ressalta o estudo, parece funcionar melhor no estágio inicial do distúrbio, antes do aparecimento dos sintomas. Isso geraria uma dificuldade em um possível tratamento em humanos, já que o problema teria de ser diagnosticado precocemente. “Não é comum fazer diagnóstico antes de aparecerem os sintomas, mas existe essa possibilidade quando já há casos na família. Hoje, não é muito indicado (o procedimento) porque, se a criança tiver a alteração, só resta esperar pela doença. Mas se tivesse algo para fazer, a situação mudaria completamente”, avalia o geneticista Salmo Raskin.

A medida proposta pelos pesquisadores italianos também não parece representar uma cura, ao menos por enquanto. Mas, se for provado possível, o tratamento genético seria a primeira esperança para os pacientes com o distúrbio, que costuma deixar bebês presos à respiração artificial e crianças, às cadeiras de rodas. “”Não precisa nem ser cura. Em um caso como esse, onde não tem praticamente tratamento, mesmo se for algo que possa fazer a doença progredir lentamente, já seria maravilhoso”, avalia Raskin.

No entanto, especialistas alertam que a pesquisa ainda está no início, e que pode levar anos até que possa resultar em um tratamento real ou mesmo que tenha a eficiência comprovada. “O problema principal com uma terapia para a atrofia é resolver o problema da introdução de células em número suficiente para a coluna espinhal dos pacientes. As questões técnicas a respeito do transplante em ratos recém-nascidos podem se tornar consideravelmente mais complexas quando pensamos em bebês ou jovens crianças com a atrofia”, compara John D. Porter, diretor de neurogenética do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame (NINDS, em inglês), dos Estados Unidos.

A técnica, ressalta o médico, já é explorada para o tratamento de outras doenças, como a esclerose lateral amiotrófica. O especialista ainda ressalta que outras terapias também têm como alvo o gene SMN2, mas com a introdução de fatores de correção em níveis mais superficiais da coluna espinhal. Essas tentativas menos invasivas podem ter mais chances de serem levadas adiante. “O risco/benefício pode favorecer a exploração da terapia celular, mesmo que exija uma cirurgia extensa. Se essa terapia ou exposição cirúrgica é praticável nos pacientes com atrofia, é uma questão que os pesquisadores deveriam abordar”, afirma Porter. As próximas etapas serão realizar novos testes em cobaias para que o experimento se mostre seguro em humanos, um processo que pode levar alguns anos.

Neurônios comprometidos

Conhecido também como doença de Lou Gehrig, esse mal causa a degeneração dos neurônios motores, responsáveis pelo movimento voluntário dos músculos. As fibras nervosas da medula espinhal são destruídas, levando à fraqueza dos membros e, gradativamente, à rigidez e a espasmos musculares. Uma das vítimas desse distúrbio é o famoso físico Stephen Hawking, cuja paralisia o mantém em uma cadeira de rodas e o obriga a falar por meio de aparelhos.

Prognóstico assustador

No tipo I da doença, que atinge recém-nascidos, 95% das crianças morrem antes de completarem um ano e meio, e nenhuma chega aos 4 anos. A morte precoce é causada por uma má formação do diafragma, o que causa insuficiência respiratória e leva o bebê a depender de ventilação artificial. No segundo tipo, comum em bebês a partir dos 6 meses, a criança costuma ter que usar cadeira de rodas e pode morrer ainda na primeira fase da vida, de acordo com o Manual Merck de informação médica.

Fonte:Correio Braziliense

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